O que é o Jornal da Macroeconomia

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Natal, RN, Brazil
O Jornal da Macroeconomia é uma reunião de debates que tem como temática a conjuntura macroeconômica. Idealizado pelo professor do Departamento de Economia da UFRN, Dr. André Lourenço, para servir como instrumento de incentivo ao debate. Teve sua primeira edição realizada no dia 09 de outubro de 2008. Sua formatação inclui a pesquisa e seleção de notícias consideradas relevantes, envolvendo a temática do debate, que são compiladas e apresentadas aos participantes na forma de jornal, seguindo então os debates, tendo como foco as notícias previamente selecionadas. Esse espaço foi criado para disponibilizar as edições anteriores aos interessados, divulgar o Jornal da Macroeconomia e criar um meio eletrônico de realizar esses debates, visando contribuir para o Curso de Economia da UFRN e de outras academias.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

7ª Edição

UFRN – Ano 02 – 7ª Edição – Editado por Breno Roos e Elivania Melo – Setembro/2009 – Natal/RN

É o câmbio, Sr. Presidente!

O Brasil só terá novamente altas taxas de crescimento econômico quando voltar a administrar taxas de câmbio, afirma o economista Luiz Carlos Bresser-Pereiera


(17/08/09) – Folha de S. Paulo – O "VALOR Econômico" do último dia 11 informava em sua manchete de primeira página que a indústria automobilística vive sua "3ª onda de investimentos", enquanto no mesmo dia a Folha anunciava que "queda na exportação segura retomada das montadoras" e completava: a retração acumulada das exportações do setor neste ano é de 12,9%.

As duas notícias são contraditórias. Por que as empresas planejariam grandes investimentos se suas exportações estão em queda? E se uma das causas dessa queda for a apreciação do câmbio que está ocorrendo? Para que a expansão projetada seja voltada principalmente para atender o mercado interno, poderiam me responder. Mas, ainda que a indústria automobilística seja um dos poucos setores protegidos, a apreciação cambial abre o mercado interno para as importações.

Só vejo uma explicação para a contradição. Os planos de investimento provavelmente existem, mas foram formulados no quadro de outra taxa de câmbio – daquela taxa que se definiu após o crash de outubro de 2008. Planos de investimento tomam tempo para serem formulados e mais ainda para serem implementados. Não me surpreenderá, portanto, que uma boa parte desses projetos seja abandonada ou adiada em vista da nova taxa de câmbio.

O presidente Lula, porém, não parece disposto a enfrentar o problema. Nesta mesma Folha, Kennedy Alencar informa que, "apesar de preocupado com o efeito negativo da valorização do real sobre as exportações, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva descarta intervenção no sistema de câmbio flutuante". Como explicar esse fato? Só vejo duas respostas: primeiro, o presidente Lula está satisfeito com o desempenho da economia brasileira e não se dispõe a tomar medidas mais fortes no setor; segundo, o presidente ainda não se deu conta da gravidade do problema cambial brasileiro; supõe que a sobreapreciação que está novamente se manifestando seja conjuntural – relacionada com a taxa de juros elevada – quando ela

é estrutural.

Acho que o presidente se satisfaz com pouco, mas compreendo sua satisfação. Ela reflete o contentamento dos brasileiros, que, depois de 14 anos de alta inflação e baixo crescimento, entenderam que baixa inflação e um crescimento um pouco melhor sejam o melhor que podemos esperar. "Se meus eleitores estão satisfeitos, por que vou eu intervir no mercado?", deve pensar. Respeito o gênio político do presidente, mas o fato real é que essa taxa de câmbio é incompatível com o desenvolvimento econômico brasileiro. Já era antes da crise,

mas era então provisoriamente compensada pelo aumento do mercado interno causado por suas medidas distributivas (Bolsa Família e elevação do salário mínimo).

Não existe, entretanto, mais espaço nessa área. E o câmbio está novamente seguindo sua tendência estrutural à sobreapreciação. Essa tendência à sobreapreciação tem duas causas fundamentais: a doença holandesa moderada, mas real, existente no Brasil e a atração que os capitais externos têm pelas taxas de lucro e de juros mais elevadas existentes no país. Por isso não é possível deixar a taxa de câmbio por conta do mercado. Este não a torna apenas volátil, como todos os economistas reconhecem, mas essa volatilidade tem uma tendência para a sobreapreciação que resulta, no curto prazo, em diminuição das oportunidades de investimento e, no médio prazo, em crise de balanço de pagamentos. O Brasil só alcançou altas taxas de crescimento enquanto administrava sua taxa de câmbio. Só voltará a alcançá-las quando voltar a fazê-lo.


Um ano depois, Brasil passa no teste e sai da crise maior do que entrou


Para especialistas, avanço do País e de outros emergentes é uma das características do mundo pós-crise


(30/08/2009) – O Estado de S. Paulo – O Brasil saiu da turbulência global maior do que entrou. Às vésperas do mês em que se completa um ano da crise iniciada com a concordata do Lehman Brothers, em 15 de setembro, o otimismo com o País tornou-se consensual. "O fato de que o Brasil passou tão bem pela crise tinha mesmo de instalar confiança", diz Kenneth Rogoff, da Universidade Harvard, ex-economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI). Para Jim O’Neill, do Goldman Sachs, e criador da expressão Bric (o grupo de grandes países emergentes, Brasil, Rússia, Índia e China), "o Brasil passou por essa crise extremamente bem, e pode crescer a um ritmo de 5% nos próximos anos".

O crescimento de importância do Brasil e de outras economias emergentes é uma das características do novo mundo surgido com a crise econômica. Para comentar essa e várias outras mudanças, o Estadão ouviu grandes economistas estrangeiros e brasileiros, entre eles Affonso Celso Pastore, consultor e ex-presidente do BC; e Ilan Goldfajn, economista-chefe do Itaú Unibanco.

Pastore observa que a recessão no Brasil foi curta, de apenas dois trimestres, comparada a quatro em países como Estados Unidos, Alemanha e França. Goldfajn nota que há os países que estão saindo da recessão no segundo trimestre e os que estão saindo no terceiro - o Brasil está entre os primeiros, com várias nações asiáticas. "Mesmo no primeiro trimestre, se olhar mês contra mês, há números fortes de crescimento no Brasil", acrescenta.

Uma das principais razões para o sucesso do Brasil em enfrentar a crise, segundo Pastore, é que ela pegou o País com o regime macroeconômico adequado - câmbio flutuante, bom nível de reservas, inflação controlada, superávit primário, dívida pública desdolarizada e caindo em proporção ao Produto Interno Bruto (PIB). Essa solidez combinou-se com o sistema financeiro capitalizado, pouco alavancado, que estava proibido pela regulação de operar com os ativos perigosos, como os títulos estruturados no mercado americano de hipotecas subprime. "Uma das lições da crise é que países que tinham uma abordagem equilibrada da regulação do mercado financeiro, como Brasil, Austrália, Canadá, não tiveram crise bancária", diz O’Neill.

A política anticíclica, baseada em corte de impostos e ampliação de gastos públicos, também ajudou, embora esta segunda parte seja criticada pelos efeitos de médio prazo. Para Pastore, os aumentos do funcionalismo e do Bolsa-Família tiveram efeitos contracíclicos, mas "por coincidência", já que foram decididos antes da crise. "O defeito é que, se fosse política contracíclica mesmo, teria de expandir gastos transitórios, e não permanentes."

Para a maioria dos economistas, o aumento dos gastos públicos correntes reduz o espaço do investimento, e impede que o Brasil cresça a um ritmo ainda mais forte do que os 4% a 5% que estão sendo previstos. "Não é nem preciso dizer que há um monte de coisas que o Brasil poderia fazer para crescer mais rápido", comenta Rogoff.

De qualquer forma, o sucesso diante da crise jogou o Brasil no radar dos investidores. "À medida que continuarmos a crescer mais que o mundo, é natural que o País receba um aporte muito grande de investimentos estrangeiros diretos", diz Pastore, acrescentando que eles aumentaram, mesmo com recessão e queda de lucros nos países que sediam as empresas que investem no Brasil.

A contrapartida dos fluxos de capital é o câmbio valorizado e o déficit em conta corrente, o que significa que o mundo está financiando o Brasil para consumir muito (o que implica poupar pouco) e investir ao mesmo tempo. Segundo Goldfajn, os brasileiros serão um dos povos convocados, junto com os asiáticos, a preencher o espaço deixado pelo fim da exuberância do consumidor americano, atolado em dívidas e necessitado de reconstruir seu patrimônio.


China responderá por 70% do PIB mundial em 2009


(28/08/2009) – Valor Online – Ano passado ficou marcado na história como o ano da crise do sistema financeiro. Agora, em 2009, qual será o principal marco do ano? Para o presidente da empresa de pesquisas e serviços financeiros GaveKal, Louis-Vincent Gave, 2009 será lembrado como o ano em que a China tomou o lugar dos Estados Unidos como líder na recuperação mundial após uma crise.

"Pela primeira vez desde a 2ª Guerra Mundial, os EUA não estão liderando a retomada", disse Gave em apresentação no 4º Congresso Internacional de Mercados Financeiros e de Capitais, organizado pela BM&F Bovespa.

Na avaliação de Gave, a economia chinesa será responsável por 60% a 70% do crescimento mundial em 2009. "A China vai salvar o capitalismo", disse Gave citando uma piada, que segundo ele, é bastante conhecida em Hong Kong.

Gave também contradisse o senso comum de que a força da economia chinesa nos últimos 30 anos é reflexo de suas exportações. "O comércio externo é apenas a cereja do bolo. O fundamental é o crescimento do consumo doméstico e o investimento em capital fixo."

Segundo o especialista, os chineses foram muito bem sucedidos em equalizar ganho de produtividade com sua enorme base populacional. De acordo com Gave, nas últimas décadas, o país foi habilidoso em tirar o trabalhador do campo, onde ele produzia U$ 300 por ano, e levá-lo para dentro de uma fábrica, onde sua produção subiu para US$ 3 mil por ano. "Isso resulta em maior consumo e, estando na cidade, o trabalhador tem maior acesso ao crédito", ressaltou Gave.

De acordo com Gave tal processo de urbanização, ganho de produtividade e investimento em capital humano é algo que já aconteceu. Agora, o que dará sustentação a mais algumas décadas de crescimento chinês é uma nova revolução. "Uma revolução financeira", diz Gave.

O pesquisador observa que o país terá que aumentar a produtividade do seu capital, ou seja, modernizar e dinamizar seu sistema financeiro. O interessante, conforme Gave, é que o governo chinês já dá alguns passos nessa direção, como permitir que os exportadores deixem os dólares fora do país e a realização de acordos de swap com outros bancos centrais.

O ponto crucial, disse Gave, é a mudança do regime cambial. Se o governo chinês quiser realmente ter ganhos na produtividade de seu capital, terá que dar maior flutuação para o yuan.