O que é o Jornal da Macroeconomia

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Natal, RN, Brazil
O Jornal da Macroeconomia é uma reunião de debates que tem como temática a conjuntura macroeconômica. Idealizado pelo professor do Departamento de Economia da UFRN, Dr. André Lourenço, para servir como instrumento de incentivo ao debate. Teve sua primeira edição realizada no dia 09 de outubro de 2008. Sua formatação inclui a pesquisa e seleção de notícias consideradas relevantes, envolvendo a temática do debate, que são compiladas e apresentadas aos participantes na forma de jornal, seguindo então os debates, tendo como foco as notícias previamente selecionadas. Esse espaço foi criado para disponibilizar as edições anteriores aos interessados, divulgar o Jornal da Macroeconomia e criar um meio eletrônico de realizar esses debates, visando contribuir para o Curso de Economia da UFRN e de outras academias.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

11ª Edição

UFRN – Ano 03 – 11ª Edição – Editado por Andréia Simone, Elivânia Melo, Felipe Luiz, Fernando Nascimento e Maikon Anderson – Maio/2010 – Natal/RN

UM DINHEIRO MUITO DISTANTE

PAUL KRUGMAN

Então, seria a Grécia o próximo Lehman Brothers? Não. Ela não é grande ou interconectada o suficiente para causar o congelamento dos mercados como em 2008. O que quer seja a causa do breve desmaio de mil pontos no Dow Jones não foram os atuais eventos da Europa.

Você também não deve levar a sério analistas afirmando que estamos vendo o começo de uma corrida contra todas as dívidas do governo. Os custos com empréstimos nos Estados Unidos na verdade afundaram, na quinta-feira passada, aos menores níveis em meses. E, enquanto os preocupados avisavam que a Grã-Bretanha poderia ser a próxima Grécia, as taxas britânicas também caíram levemente.

Essas são as boas notícias. A má notícia é que os problemas da Grécia são mais profundos do que os líderes europeus estão dispostos a reconhecer, mesmo agora – e os problemas são compartilhados, em grau menor, por outros países da região. Muitos observadores esperam que a tragédia grega acabe em inadimplência. Eu estou cada vez mais convencido que eles são otimistas demais, que a inadimplência será acompanhada ou seguida pela partida da zona do euro.

De certo modo, isto é a crônica de uma crise anunciada. Lembro de ter debochado, quando o Tratado de Maastricht foi assinado, colocando a Europa no caminho para o euro, que eles haviam escolhido a cidade holandesa errada para a cerimônia. Ela deveria ter tomado lugar em Arnhem, local da infame Ponte Longe Demais, em que, na II Guerra Mundial, um plano de batalha excessivamente ambicioso dos aliados acabou em desastre.

O problema, tão óbvio em consideração ao que é agora, o que falta à Europa é alguns dos atributos chaves para o sucesso em uma área de moeda comum. Além disso, falta um governo centralizado.

Considere a comparação freqüente entre a Grécia e o Estado da Califórnia. Ambos estão em profundos problemas fiscais, ambos têm um histórico de irresponsabilidade fiscal. E o impasse político na Califórnia é, na verdade, pior – afinal, apesar das demonstrações, o parlamento grego aprovou medidas de severa austeridade.

Mas os infortúnios fiscais da Califórnia não importam tanto, mesmo a seus próprios residentes, quanto os da Grécia. Por quê? Porque muito do dinheiro gasto na Califórnia vem de Washington, não de Sacramento. O financiamento do Estado pode ser cortado, mas reembolsos do Medicare, cheques da Previdência Social e pagamentos a fornecedores militares continuarão entrando. O que isto quer dizer, entre outras coisas, é que os problemas fiscais não impedirão o Estado de compartilhar de uma mais vasta recuperação econômica dos EUA. Os cortes orçamentários na Grécia, por outro lado, exercerão forte efeito depressor em uma já deprimida economia.

Então seria uma reestruturação de dívida – termo polido para uma inadimplência parcial – a resposta? Não ajudaria tanto quanto as pessoas imaginam, pois pagamentos de juro são apenas parte do déficit orçamentário da Grécia. Mesmo se parasse completamente de pagar sua dívida, o governo grego não liberaria dinheiro suficiente para evitar ferozes cortes no orçamento.

A única coisa que poderia realmente reduzir a dor dos gregos seria uma recuperação econômica, que geraria maior receita, reduzindo a necessidade de corte nos gastos, e criaria empregos. Se a Grécia tivesse moeda própria, poderia tentar engendrar tal recuperação por desvalorizar esta moeda, aumentando sua competitividade nas exportações. Mas a Grécia usa o euro.
Então, como isto acaba? Pela lógica, vejo três maneiras para a Grécia continuar na zona do euro. Primeiro, os trabalhadores poderiam alcançar a redenção pelo sofrimento, aceitando grandes cortes salariais que fariam a Grécia competitiva o suficiente para criar empregos. Segundo, o Banco Central Europeu poderia engajar-se em uma política de comprar muitos títulos de dívidas do governo e aceitar – na verdade, dando as boas-vindas – a inflação resultante. Isso faria o ajuste na Grécia e em outras nações da zona do euro muito mais fácil. Ou, terceiro, Berlim poderia tornar-se para Atenas o que Washington é para Sacramento – isto é, governos europeus fiscalmente fortes poderiam oferecer a seus vizinhos mais fracos, suficiente auxílio para fazer da crise algo suportável.

O problema, claro, é que nenhuma dessas alternativas parece politicamente plausível. O que sobra parece impensável: a Grécia deixar o euro. Quando você descarta todo o resto, é o que fica.

Caso isso aconteça, se desenrolará mais ou menos como a Argentina em 2001, que tinha um supostamente permanente e inquebrável peso fixo em relação ao dólar. Acabar com essa relação era considerado impensável pelas mesmas razões que deixar o euro parece impossível: mesmo sugerir a possibilidade significaria correr risco de incapacitantes fugas de capital nos bancos. Mas isso aconteceu mesmo assim, e o governo argentino impôs restrições emergenciais aos saques. Isso deixou a porta aberta para a desvalorização, e a Argentina eventualmente acabou passando por aquela porta

Se algo assim acontecer na Grécia, uma onda de choque se propagará pela Europa, possivelmente engatilhando crises em outros países. A não ser que os líderes europeus possam e queiram agir de forma mais ousada do que já vimos até agora, é para onde a situação se encaminha.

Tradução: Fernanda Grabauska

O Brasil tenta controlar o aumento do seu crescimento econômico

Le Monde

(25/05/2010) Allegro ma non troppo: é esse o ritmo que o governo brasileiro quer imprimir ao crescimento da economia nacional. Nos últimos meses, esta vem progredindo rápido demais, e corre o risco de sofrer um superaquecimento como o da economia chinesa.

Atingido tardiamente pela crise mundial, o Brasil foi um dos primeiros países a se livrarem dela. E como! Depois de ter sofrido uma ligeira retração do produto interno bruto (PIB) de 0,2% em 2009, sua economia volta a crescer, e mais rapidamente do que antes da crise.

Segundo uma projeção do Banco Central, o crescimento deu um salto de 9,84% no decorrer do primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2009, e de 2,38% em relação ao período outubro-dezembro de 2009. A economia poderá crescer de 6% a 7,5% em 2010, um recorde nos 25 últimos anos.

Os sinais de superaquecimento são visíveis. Principal motor do crescimento, o consumo interno está a todo vapor. Ele é mantido pela febre consumidora dos cerca de 25 milhões de brasileiros que, em dez anos, passaram a fazer parte da classe média e descobriram os charmes do crédito. No primeiro trimestre, o comércio cresceu 13%.

Em três meses, o Brasil criou quase um milhão de empregos. E deverá criar 2,5 milhões deles em 2010, em um mercado que permanece tenso devido à escassez de mão de obra qualificada em certos setores em plena expansão, como a indústria petroleira. De janeiro a março, mais de 11 mil vistos de trabalho foram concedidos a estrangeiros, um aumento de 16%.

As importações destinadas a satisfazer a demanda interna em bens de produção e em produtos industriais deverão, pela primeira vez desde 2000, ultrapassar as exportações, constituídas em sua maioria por matéria-prima agrícola e minerária, destinada especialmente à China, principal cliente do Brasil.

Para evitar o agravamento do déficit da balança de pagamentos, o governo acaba de adotar uma série de medidas de ajuda aos exportadores, ainda mais castigados pela valorização excessiva do real, a moeda nacional.

Mas o que mais preocupa os dirigentes é o despertar da inflação, esse flagelo que tanto devastou a economia do Brasil no passado. A alta dos preços atingiu 5,3% em um ano, e deverá ser de 5,5% em 2010, ou seja, um ponto acima da meta oficial (4,5%). Para o presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, é absolutamente necessário do ponto de vista político conter a inflação, a pior inimiga dos pobres.

E isso causou a decisão tomada pelo Banco Central, no fim de abril, de aumentar em 0,75 pontos os juros básicos, para 9,5%. Foi a primeira vez em quase dois anos, e deverá haver outros aumentos futuramente, de forma suave para não “resfriar” demais a economia.

Essa medida ocasionalmente indispensável não compromete, a longo prazo, a queda progressiva dos juros que, em termos reais, passaram de 20% em 2003 para 5% hoje. Esses juros continuam sendo muito atraentes para os especuladores estrangeiros, seduzidos pelo Brasil desde que as agências de classificação de risco o consideraram um “país seguro” em 2008.

Em 2010, os investimentos diretos estrangeiros deverão atingir a cifra recorde de US$ 45 bilhões. Na Bolsa de São Paulo, eles são maiores que os investimentos das instituições e pessoas físicas.

Entretanto, se o Brasil se aproxima do superaquecimento, é porque ele não investe o suficiente em seus meios de produção. Ele também poupa muito pouco: 19% de seu PIB (contra 40% na China). Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), calcula em 25% as taxas de investimento e de poupança desejáveis para que o Brasil possa enfrentar um crescimento anual de 10%.

Esse dinheiro deverá financiar o desenvolvimento da infraestrutura, especialmente no setor rodoviário e portuário, que está saturado, e a melhora do ensino público e profissionalizante, cuja deficiência limita os ganhos de produtividade. Sem isso o país corre o risco de ter uma falta ainda maior de máquinas, de espaço e de mão de obra qualificada.

Enquanto isso não acontece, o governo, para frear a demanda, aboliu os incentivos fiscais instaurados durante a recessão para estimular o consumo. Ele anunciou cortes de US$ 17 bilhões (R$ 31 bilhões) nos gastos públicos. Mas, nesse campo da austeridade, sua margem de manobra orçamentária é reduzida, neste ano de eleição presidencial.

Há alguns dias, em Madri, o presidente Lula comemorava “o momento mágico” vivido pela economia brasileira. Para que essa magia dure, não é nem desejável nem razoável que esta cresça além de 6% este ano.

“Não queremos voar além daquilo que planejamos”, resume o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, brinca: “Mas controlar o aquecimento é uma tarefa boa”. Uma tarefa pela qual é invejado por muitos de seus colegas em todo o mundo.

Tradução: Lana Lim